General Mário Fernandes assume autoria de “Punhal Verde e Amarelo” em suposta trama de golpe
O cenário político brasileiro foi abalado por uma revelação significativa: o general da reserva Mário Fernandes, ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo de Jair Bolsonaro, admitiu, em interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), ser o autor do plano intitulado “Punhal Verde e Amarelo”. Este documento detalhava um suposto esquema para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Fernandes, contudo, buscou minimizar a gravidade do achado, classificando o arquivo como um mero “pensamento digitalizado” e negando veementemente tê-lo compartilhado com qualquer pessoa, incluindo o ex-presidente Bolsonaro. Segundo ele, o documento representava apenas uma análise pessoal do contexto político do país, sem qualquer intenção de ser executado.
As investigações da Polícia Federal, que culminaram na prisão de Fernandes em 19 de novembro de 2024, pintam um quadro diferente. A PF revelou que o plano “Punhal Verde e Amarelo” foi impresso em três cópias no Palácio do Planalto em 9 de novembro de 2022. Cerca de 40 minutos após a impressão, Fernandes esteve no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência na época. Apesar da coincidência, o general negou ter apresentado o documento ao ex-presidente, alegando que o imprimiu para leitura pessoal e depois o rasgou. A Procuradoria-Geral da República (PGR), por sua vez, aponta inconsistências, destacando as múltiplas cópias e uma reimpressão posterior do documento.
A operação da PF, deflagrada em novembro de 2024, desvendou que Fernandes e outros quatro militares, além de um policial federal, discutiam o plano em 2022 por meio do aplicativo Signal, em um grupo codinome “Copa 2022”. Os integrantes utilizavam codinomes de países para evitar identificação. Este grupo, majoritariamente composto por militares das Forças Especiais do Exército, planejava executar os assassinatos em 15 de dezembro de 2022, apenas três dias após a diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral. O plano incluía o uso de veneno e um arsenal de guerra, além do monitoramento constante do ministro Alexandre de Moraes.
A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid adiciona mais uma camada de complexidade ao caso, indicando que Fernandes era um dos generais que mais incentivava ações das Forças Armadas para impedir a posse de Lula em 2022, no contexto de uma suposta tentativa de golpe de Estado. A PGR sustenta que Jair Bolsonaro tinha “pleno conhecimento” do plano, embora Fernandes continue a negar qualquer envolvimento do ex-presidente.
Enquanto a defesa de Fernandes insiste que o “Punhal Verde e Amarelo” não passou de um exercício teórico, a denúncia da PGR é incisiva, destacando que o documento “tramava contra a liberdade e mesmo a vida” de autoridades, utilizando codinomes como “Jeca”, “Joca” e “Juca” para se referir a Lula, Alckmin e Moraes, respectivamente. O interrogatório de Fernandes marca a fase final da instrução do processo contra o segundo núcleo da organização investigada por tentativa de golpe. As evidências levantadas pela PF, incluindo as comunicações no grupo “Copa 2022”, reforçam a gravidade das acusações, e o STF deve julgar o caso de Jair Bolsonaro, relacionado à trama golpista, entre agosto e setembro deste ano.

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