Com tarifa dos EUA, rearranjo da exportação de carne do Brasil passa pelo México

Com tarifa dos EUA, rearranjo da exportação de carne do Brasil passa pelo México

As novas e elevadas tarifas impostas pelos Estados Unidos à carne bovina brasileira deverão provocar um significativo rearranjo no comércio global do produto, mas, paradoxalmente, podem criar novas oportunidades e amenizar o impacto para o Brasil, maior exportador mundial. A avaliação é de especialistas do setor, que preveem um aumento nos embarques de países como México e Austrália para o mercado norte-americano, abrindo espaço para o avanço brasileiro em outras frentes.

Este novo cenário comercial, decorrente da sobretaxa de 50% anunciada pelo governo de Donald Trump, tende a fortalecer os laços entre Brasil e México. Analistas apontam que, ao ampliar suas vendas para os EUA, o México precisará importar mais carne para suprir sua demanda interna, recorrendo ao Brasil, que desde 2023 se tornou um de seus principais fornecedores. Em agosto, o país norte-americano se consolidou como o segundo maior destino da carne brasileira, superando os próprios Estados Unidos. O mesmo movimento pode ocorrer com a Austrália, que ao priorizar o mercado americano, deixaria um vácuo em outros países que poderia ser ocupado por exportadores brasileiros.

Diante desta conjuntura, a consultoria especializada Athenagro manteve inalterada sua projeção de exportação para 2025, indicando que pode até revisá-la para cima. O otimismo se baseia no forte desempenho do setor, que registrou um aumento de mais de 13% nas exportações de janeiro a julho, e na resiliência construída pela diversificação de mercados nos últimos anos. Em missão comercial no México, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, reforçou a visão de que a abertura de novos parceiros comerciais, como o próprio México, minimiza substancialmente os impactos das barreiras americanas.

O contexto global de oferta restrita e demanda aquecida por carne bovina também favorece o Brasil. Com uma menor disponibilidade de gado nos próprios Estados Unidos, a tendência é de preços sustentados no mercado internacional, o que levará compradores a buscarem a oferta brasileira, mais competitiva. Segundo Thiago Bernardino de Carvalho, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), essa dinâmica pode, a médio e longo prazo, atrair o interesse de mercados exigentes que tradicionalmente compram dos EUA, como o Japão, onde o Brasil já negocia a abertura para sua carne.

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